Mineira completa 110 anos e relembra histórias de três séculos
Gustavo Werneck -
Publicação: 30/12/2010 10:00 Atualização: 30/12/2010 10:12
Letícia Ferreira de Souza mantém o hábito de rezar o terço todos os dias, diante dos quadros de santos em seu quarto
Bocaiúva – Quando ela nasceu, o Brasil republicano era apenas uma criança, a escravidão, apesar de abolida havia 12 anos, ainda lançava sombras nefastas país adentro e a nova capital de Minas engatinhava entre prédios em construção, ruas poeirentas e sonhos de liberdade. Foi nesse tempo, no apagar das luzes do século 19, que Letícia Ferreira de Souza chegou ao mundo, mais exatamente numa fazenda em Bocaiúva, nas proximidades do Rio Jequitinhonha. Hoje, às vésperas de 2011, com os tradicionais bolo e “parabéns pra você”, cantado por parentes e amigos da comunidade de Cordeiros, onde mora, a 95 quilômetros da sede municipal e 464 de Belo Horizonte, Letícia completa 110 anos, declarando-se “meio surdinha e com a cabeça um pouco ruim”. Fora isso, tem saúde, caminha devagarinho pelo quintal de casa, colhe frutas e guarda histórias pessoais que atravessaram o século 20 e percorrem o 21 com sabor às vezes doce, às vezes ácido, mas sempre permeadas pela emoção.
A chuva torrencial não para, as estradas vicinais beirando extensas plantações de eucalipto se transformam em rios, GPS e telefone celular não funcionam e a falta de placas indicativas torna ainda mais difícil localizar Cordeiros, a 700 metros do Jequitinhonha. O jeito é perguntar a alguém e, por sorte, encontrar um motorista que conhece a mulher centenária e está na direção da comunidade. Uma hora depois, Maria Zélia Vieira, de 51, casada com um sobrinho de Letícia e acompanhante dela durante o dia, abre a porta da moradia simples e decorada com quadros de santos, aquecida pelo fogão a lenha e com um pé de pinha na porta. “Vamos entrar!”, convida com simpatia.
Sentada numa cadeira e vestindo saia e blusa de algodão, Letícia recebe o abraço dos visitantes e, a qualquer pergunta que não entende, faz uma concha com a mão em volta da orelha ou olha, meio na cumplicidade, para Maria Zélia e a afilhada Maria das Dores Freire Antunes, de 79, a Dodô, outra presença constante em casa. “A gente fica aqui de manhã e à tarde, mas, à noite, ela dorme sozinha. Só com Deus”, revela Maria Zélia, animada com a festa, que se completará amanhã, às 11h, com missa na Igreja de Santos Reis celebrada pelo arcebispo emérito de Montes Claros, no Norte de Minas, dom Geraldo Magela de Castro. “Ele sempre vem nesta época e a madrinha fica bem feliz”, emenda Dodô.
Até então quieta no seu canto, Letícia diz que ficou solteira e para titia, pois ajudou a cuidar dos numerosos filhos dos irmãos e irmãs. Teve, sim, um grande e único amor, o Zé da Dejanira, filho de mulher negra, ex-escrava, com um fazendeiro, romance de juventude impedido pelo pai severo e irredutível diante do namoro da moça branca com o homem “moreno”. No auge da adolescência, Letícia bateu o pé, chorou de raiva pelo preconceito, enfrentou o pai e passou a se encontrar às escondidas com o rapaz, embora sem qualquer intimidade. Na verdade, houve apenas um contato físico de saudosa memória. “Uma vez, estava distraída e o Zé veio andando por trás, de mansinho. Quando virei, me deu um beijo. Nem sabia o que era aquilo e pedi explicação.” A pergunta inevitável – “na boca?” – faz a senhora sorrir baixinho e pôr a mão no rosto. Alguns segundos de silêncio e admite ter sentido, no beijo inesquecível nos lábios, um certo calor no corpo. O namoro, no entanto, terminou em seguida. “Sempre sonho e rezei a vida inteira por ele. A minha juventude foi boa, mas o meu pai era muito bravo. Eu brigava, mas não teve jeito”, confidencia.
Zé da Dejanira se casou e Letícia, nome que em latim significa alegria, ficou sozinha e para “semente”, conforme ela mesma diz. Fazendo cara de mistério, conta que, nos tempos de namoro, ela e o amado combinaram que o primeiro que morresse entraria em contato com o outro, numa espécie de pacto. “E não é que, quando foi embora, ele veio me avisar?”, diz com a certeza de que a cena foi real, e não fruto da imaginação fértil dos eternos apaixonados.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
domingo, 14 de fevereiro de 2010
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Só pra dar um gostinho...
O SHOW
Festa Santos Reis 2010
(Música: Nova York - Composição: Cristian/ Ralf / Intérprete: Músicos da Banda Bonde Xote - Conheça mais sobre a banda no blog: http://bondexote.blogspot.com/)
Festa Santos Reis 2010
(Música: Nova York - Composição: Cristian/ Ralf / Intérprete: Músicos da Banda Bonde Xote - Conheça mais sobre a banda no blog: http://bondexote.blogspot.com/)
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Missão Cumprida!
Tudo começou em um churrasco na casa de Dona Rosa, outubro de 2008, Dora sugeriu que a próxima festa de Santos Reis fosse organizada pelos jovens, uma festa grande como há muito tempo não faziam por lá. E nós abraçamos a idéia, Jadir junto com sua esposa Marisa lideraram os trabalhos, eu fiquei com a parte de divulgação, criei o blog e comecei a enviar mil mensagens pra todo mundo. Madrinha Neusa fez as camisetas e ajudou a arrecadar verba para financiar a vinda da banda para a Festa, além de organizar o coral da Igreja, padrinho Zeca ficou responsável pelo churrasco, Zenaide, Nice, Thamires, eu e Carol ficamos com a decoração... é difícil citar nomes, porque toda a Comunidade e as pessoas que direta ou indiretamente estão ligadas a ela, ajudaram muito para que essa Festa acontesse. E graças ao esforço conjunto de todas essas pessoas fizemos essa festa linda, que ficou para história (palavras de Dom Geraldo), dando destaque e valor a quem há tempos merece: A Comunidade de Cordeiros!
Enfim, A FESTA!
FESTA DE SANTOS REIS - 2010
Tudo perfeito. No céu nenhuma nuvem, o dia estava quente, ônibus e carros chegavam de todo lado: Montes Claros, Bocaiúva, Olhos d'água, Macaúba, Belo Horizonte, São Paulo... todos arrumados, muitos com as camisetas da festa, coisa que por lá nunca se viu.
Beijos e abraços, "Há quanto tempo não nos víamos!" Bom estar aqui...
Ao cair da noite, a Missa começou, cantando "Deixa a luz do céu entrar" celebramos o dia de Santos Reis, bispo Dom Geraldo, sempre muito carinhoso com toda a Comunidade, nos fez lembrar a importância do Batismo e refletir sobre o real motivo que nos reuniu naquele momento.
A Igreja estava cheia, como a muito tempo não se via, a Folia de Santos Reis também estava presente e como cantaram bonito diante do presépio!
Terminada a Missa, seguimos até a casa da Tia Dade, a mais nova moradora de Cordeiros, lá a bandeira de Santos Reis nos esperava, seguindo a tradição de anos, os foliões cantaram para abençoar a dona da casa.
Tia Dade estava emocionada. Ramon e Letícia carregaram a bandeira até a Igreja, nós os seguimos com velas nas mãos. O mastro foi levantado e demos vivas a Santos Reis, houve queima de fogos e os olhos ficaram cheios de lágrimas.
E a Festa estava só começando! Era hora de ir para o grupo escolar, lá fomos recebidos com um delicioso caldo quente, humm... Palco montado, mesa de som, luzes, o show prometia! Três músicos da banda Bonde Xote fizeram a alegria da noite, Marcelo, o vocalista e cordeirense famoso, agitou a galera até as quatro da manhã! Dançamos até as pernas não aguentarem mais! Forró, brega, rock anos sessenta... teve de tudo e mais um pouco! Até cd ganhamos!
Um garrafão de vinho sumiu e teve gente que dormiu abraçado com quem não devia... que importa! Estávamos aproveitando a festa até o fim!
No domingo os fogos da alvorada bem cedinho, a festa continua. As dez horas fomos a Missa, teve casamento triplo! Bodas de prata. Além da apresentação das Pastorinhas, que deixaram aquela manhã ainda mais especial.
Hora do almoço, churrasco!!! A fila estava grande, comida mineira, ninguém quer perder! Arroz, farofa, vinagrete e carne a vontade, agora entendo aquela famosa expressão: “Bom dimais da conta sô!”. Tudo a ver!
A tarde começou com mais um pouco de música, até Serafim veio participar!
Na procissão o Sol brilhava forte, chegava a hora de se despedir.
Na Igreja nos emocionamos com as palavras de Dom Geraldo que disse nunca antes ter visto em Cordeiros festa tão bonita e também com Jadir que, ao contar toda a trajetória de trabalho para a realização dessa festa, fez cair lágrimas em seus e em nossos olhos.
Foi lindo e se Deus quiser será de novo nos próximos anos.
E a você que esteve conosco, obrigada por tudo e até a próxima festa!
(Clique sobre as fotos para vê-las em tamanho ampliado)
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